quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sem saco

Ando sem saco para escrever, desabafar, criticar, elogiar, participar ou me abster.
Ando realmente sem saco em fazer parte de alguma coisa, seja ela o que for.
Não quero fazer parte nem de minhas rotinas, de meus planos, de minhas vontades e desânimos.
Gostaria de, por alguns momentos, ser algo, ser simplesmente.
Existir, sem consciência, sem experiência, mero expectador imerso na "mistureba generalizada de todas as coisas" (quem lê DNA sabe do que se trata).
Gostaria de ser uma pedra, capaz deresistir ao tempo e de transformar-me com ele, daptando minhas novas estruturas aos contornos da paisagem.
Poder estar ali, sem significar absolutamente alguma coisa.
Ando descontente com a existência, mas não penso em querer morrer ou coisa que o valha.
Não gosto e não entendo a maneira como a vida evoluiu de formas tão perfeitamente adaptáveis para esta forma cretina, mesquinha, pobre, ignorante, volátil e fraca que é o ser humano.
Entendoo proceso evolutivo, só não entendo por que nós somos o conceito de evoluídos.
Nossa inteligência e capacidade de percepção da realidade um pouco diferente da dos outros seres vivos nos deu uma ilusão de autoridade sobre tudo o que existe.
Nós nos consideramos o centro de tudo o que é real, e fora de nossa realidade nada importa.
É muita arrogância acreditarmos que fomos criados com um propósito e que os animais e plantas estão aqui para nos servirem de abrigo e alimento.
Estamos todos no mesmo pacote: todos queremos sobreviver.
Mas o desrespeito pelo outro, seja ele o que for, é do tamanho da megalomania humana.
Eu gostaria de ser uma pedra, de me transformar em poeira e, em alguns milênios, fazer parte do movimento infinito dos desertos.
Gostaria de poder contemplar o surgimento de novas espécies, estar ao lado delas, acompanhar o desaparecimento humano e o retorno da segurança da vida de todas as outras espécies que hoje vivem sob ameaça.
Ando sem saco para ser humano, apenas gostaria de fazer parte do universo, imerso nele, disforme, incolor, insípido, transparente, inodoro, anti-material.
Deve ser a ressaca das festas defim-de-ano.

Um comentário:

Barattynha disse...

Acontece, também me sinto assim as vezes.