terça-feira, 25 de maio de 2010

"Posso dormir aqui com vocês?!"

Eu não conseguia dormir.
Ficava vendo as sombras nas janelas numa dança frenética e violenta.
Pareciam querer destroçar os vidros que as separavam de meu quarto.
Assustado, levantei-me e, tropeçando em móveis e objetos desconhecidos espalhados pela casa, tentei alcançar o quarto de meus pais.
Posicionei-me cuidadosamente do lado de minha mãe e, cutucando-a levemente, perguntei se poderia dormir com eles.
Ela acordou um pouco grogue, mas percebendo que eu estava amedrontado e que não iria dormir de outra forma ela, cuidadosamente, colocou-me no meio dos dois.
Deu-me um forte abraço e me cobriu com carinho e cuidado.
Eu tinha 6 anos de idade.
A maior parte das pessoas, e eu me incluo neste grupo, vive suas vidas da melhor maneira que puderem.
De acordo com a lei do sistema em que nos encontramos imersos, somos obrigados a nos virar sozinhos a maior parte do tempo.
Embrutecemos nossas fisionomias para nos dar uma sensação de que estamos seguros e que nada irá nos atingir.
Fingimos a maior parte do tempo em boa parte de nossas iterações sociais.
Passamos a mensagem de que estamos bem e que podemos, até mesmo, ajudar alguém que se encontre em situação difícil.
Mas temos aqueles dias em que nossos escudos parecem estar avariados e nosso sistema reserva de energia encontra-se no fim de sua carga.
Em momentos como esse, que são raros de acontecer mas nem por isso são menos intensos e violentos, ficamos completamente sucetíveis a qualquer um e qualquer coisa que possa vir a nos ferir.
E tudo o que mais precisamos é de um colo confortável, amável e seguro.

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