quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Pagando para sermos honestos - parte 2

É tão estranha esta sensação de que não se pode fazer absolutamente nada de imediato para mudar as coisas. Todas as idéias que tem algum valor para a humanidade, de alguma forma, são para anos futuros, longo e médio prazos.

Nada é pra agora!

E isso, de certa maneira, interfere na maneira como as pessoas se dispõem a ajudar na concretização destes planos. Querendo ou não as pessoas, inclusive eu e você, gostariam que a fome, a miséria, as desigualdades sociais, o acesso à informação, à tecnologia e á saúde fossem agora!

Fica difícil pedir para termos paciência, para fazermos a nossa parte que os nossos filhos e netos irão nos agradecer. Nossa vida é curta diante da grande linha do tempo contado até agora. Sei que o planejamento é importante, mas pessoas morrem todos os dias. Centenas de milhares, por falta do mínimo necessário à sua subsistência.

Como posso pedir para essas pessoas esperarem um pouco mais porque a ajuda está chegando? Porque o próximo plano econômico vai funcionar? Que o sistema educacional vai trazer bons frutos nos próximos 15 anos? Enquanto isso o desemprego, a corrupção, a falta de assistência dos governos continua.

Somos menos do que moscas para o senhor deputado: as moscas, pelo menos, merecem a atenção dele quando chega em casa para almoçar e se depara com as mesmas sobrevoando sua refeição conquistada com nosso “rico” dinheirinho, suado, conquistado com muito esforço para mantermos nosso nome limpo no SERASA, SPC e em boa conta com o governo.

Quando sobra algum eu tento ajudar aquele cara na esquina com algum trocado, mesmo sem saber qual será o destino desta contribuição. Eu tento não por achar que é bonito, ou para parecer que me preocupo. Tenho consciência de que todos nós somos responsáveis pela pobreza e pela má distribuição de renda. Estava presente nas passeatas porque acreditava estar fazendo alguma coisa de verdade, tentando mudar alguma coisa.

Mas existem pessoas, um pequeno grupo se comparado aos 6 bilhões de habitantes do planeta, que ainda tem poder suficiente para impedirem que o rio mude seu curso, ainda mais se o curso não for o estipulado por este mesmo grupo.

Vejo campanhas de conscientização nos meios de comunicações, tradicionais e internet, falando sobre a importância do voto, da escolha do candidato, de se analisar as propostas de campanha. Mas a verdade é que o voto é parte do sistema e serve para mantê-lo funcionando, dando-nos a idéia de que temos alguma possibilidade de escolha e transformação.

Fazem-nos acreditarmos nisso com tanta força que os nossos jovem fazem campanha a favor desse ou daquele candidato. Acreditam, ainda.

Depois de algumas dezenas de anos, vendo o poder se auto-alimentando das esperanças do povo, sugando toda a nossa força produtiva, nossos sonhos, fins-de-semana, férias, natais, aniversários, sacrificando nossas vidas para mantê-lo funcionando, a ficha cai.

Você percebe que a vida dentro do sistema é mais ou menos parecida com a do espectador de um reallity show, onde você decide o que lhe dão para decidir. Na verdade, você não opina sobre o que quer de verdade. Você não escolhe que entra na casa, como serão as provas, como será a forma de administrar a liderança dentro dela, qual o processo de eliminação, quais os requisitos para o “paredão”.

Dentro da política você não escolhe nada.

Porque todos os candidatos que lhe aparecem sem aviso na sua tv, radio, email, correio, já vem prontos. Talvez, durante a convenção do partido de sua preferência, até tenha aparecido vários candidatos sérios, bem intencionados, capazes de trazer alguma mudança, por menor que seja. Contudo, o que seleciona o possível representante do partido para concorrer ao cargo é a vontade da maioria do partido. A gente não escolhe.

Somos levados a crer que nosso voto é importante porque estamos participando e fazendo algo que vai melhorar nossas vidas.

Pra eles o voto é importante porque nos dá essa ilusão de participação no poder, justificando a existência da democracia e que é a vontade do povo os que irão se suceder no poder, ou se manter lá.

Não, eu não tenho uma idéia melhor.

É essa a sensação que me invade de vez em quando: a de que vejo o programa e nem trocando de canais eu consigo acessar um programa decente.

Como eu faço pra desligar esta televisão?

Existe um canal diferente?

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