domingo, 12 de dezembro de 2010

Não quero mais o sol

Nada mais triste do que acordar ver o sol me acompanhar
Todos os dias, ele vem primeiro a bater em minha porta
Como aquele furtivo e sorrateiro ladrão safado que me levou o violão e algumas patacas
Ele leva o meu tempo e o que resta de minha juventude, talvez, um pouco de sanidade também

É a chuva, minha companheira de sempre, que vem ao meu auxílio
Sempre ela, sempre jovem, impulsiva e imediata
Pois a vida é agora e já não tenho mais muito tempo

A juventude que escorre por entre meus fios de cabelo
Quando ela me abraça forte
Acalenta meu coração, sempre tão ingênuo quando se trata destas coisas

A suavidade, o carinho, so me pertencem quando a chuva faz em mim sua morada
Não quero mais o sol, este traidor, nefasto, cruel e insensível
Não quero mais saber para onde iremos nas próximas horas
É triste dormir e saber que a chuva não vem e que o sol voltará a me torturar

Confuso, prolixo, inerte, este meu algoz
Que não deixa meus verbos criarem linhas de expressão
Que deforma minhas memórias em falácias atemporais
Que me esqueceu na ordem do meu próprio dia

Não quero mais ter de prestar reverências a este sol
Nem a qualquer outro
Pois a chuva há de me perdoar as transgressões
E receberá meus cânticos por todos os seus grandes feitos

Nenhum comentário: